Magda é amor à primeira vista. Participante do Escrita antes de ser Escrita. Está na entrada de todos os portais, dá a mão para que você passe. Nossa caixinha de música, nosso amor de mãe, nossa Magda.
Me conta um pouco da sua história? Quero saber das coisas que são importantes para você ser quem é.
Nascida em Porto Alegre capital da gauchada falo “bah” com aquela entonação carregada, desde que me conheço por gente tudo que era grupo com algum tipo de arte a guria queria, violão, dança, música e poesia foram parte dos meus dias.
Graduação em sociologia, mudanças e andanças pelos cantos do Estado por estudos ou trabalho fui trilhando carreira em recursos humanos, gente que cuida de gente é desafio permanente em busca do equilíbrio entre sonhos, metas, estratégias, reconhecimento e satisfação, cadeia interligada e orgânica de qualquer grupo ou Organização.
No mundo do trabalho conheci o amor da minha vida, parceiro e incentivador das minhas ideias e dos meus escritos, fruto desse amor uma filha linda e talentosa em tudo que se dedica. Hoje aposentada do trabalho formal, mas cheia de projetos de vida, vasos de plantas, uma hortinha pra chamar de minha, cuidar da família e amigos e este desafiante e delicioso universo do Escrita. Feminista desde criança, hoje uma idosa afetuosa disposta e curiosa ao novo, amorosamente vou seguindo pelos caminhos democráticos que sinalizam respeito, carinho, compreensão, um gosto acentuado por mergulhos filosóficos profundos e pelo tema do amor como uma filosofia de vida. Os tropeços impostos pela vida ao andar se tornaram coleção de histórias para contar.
“Aqui dentro tudo quer palavra
pra sair, quando não sai, alagam o pensamento,
transbordam,
até a palavra encontrar jeitos de se dizer ao escrever,
por vezes pelo clamor,
outras por amor,
outras só por mim, por favor!”
Num mundo como o nosso, Magda, escrever para quê?
Para soltar a inquieta imaginação, inventar outros mundos, outras histórias, outros caminhos, como exercício de liberdade reafirmando minha existência, alimento pro peito e, em alguma medida, preencher os vazios inevitáveis deixados pela vida…
Você costuma usar sua voz poética para demonstrar afeto pelas pessoas que gosta. Me conta um pouco sobre a poesia como linguagem de amor?
Desde bem pequena meu pai poeta tradicionalista me apresentou à poesia gaúcha, com ele aprendi a declamar, sua voz forte ecoava no ambiente e eu ficava olhando encantada, ele trazia a voz como um recurso muito potente para se expressar, além do gestual ser um traço marcante da declamação, nossos bisavós do além-mar também influenciaram nossas mãos.
Mais tarde, trabalhando com grupos no Recursos Humanos, comecei a me descobrir uma facilitadora organizacional e quando veio o Escrita Matinal fez todo sentido, é como se eu tivesse me (re)encontrado com uma parte de mim esquecida na infância.
“Pelo espelho dos olhos
reconhecemos nossas singularidades,
nossos trejeitos vão dando chamego
no compasso dessa dança a dois.”
Sei que você adora viajar e conhecer novos lugares. O que você acha que essas aventuras pelo mundo fizeram pela sua escrita?
Viajar, assim como escrever, me coloca em expectativa entusiasmada do que virá, é encarar o desconhecido de peito aberto, ainda que o medo faça companhia, viajar e escrever é um tipo de descoberta de nós mesmos que encontra caminhos nas pontas dos pés ou pela ponta dos dedos, assim como quando nos perdemos pelas estradas ou ruelas dos lugares desconhecidos e a surpresa e o encantamento a cada esquina vai criando vida nova, memórias, palavra por palavra…
Como você gostaria de ser vista e lembrada?
Como alguém amável, alguém que sabia ouvir, dona de um abraço acolhedor, uma companhia divertida e afetuosa, que me sintam com o coração mais do que com os olhos.
“Envelhecer é efeito natural, não causa,
feito, não feito, efeitos…
meu feitio é vermelho sangue, vibrante,
ainda que serena de amor,
amarelo outonal, tatuagem folhas de pele caindo,
o segredo é saber se entreter nesse entrevero
entre nascer e morrer,
brincando e contando as linhas do tempo
pelo corpo, sem se assustar quanto a noite
pousar sobre mim inteira e eterna…”
Entrevista por Renata Camargo para o Escrita Matinal.
O Escrita Matinal é um grupo online de escrita criativa criado por Liana Ferraz.