Gosto de escrever, mas como escrever bem? O que eu faço?

Eu sou uma pessoa que desde muito pequena soube que tinha altas habilidades.

Eu era aquela aluna que todo bimestre estava entre os alunos destaque, com as maiores médias. A queridinha dos professores desde muito cedo – e só Deus sabe como eu vivia por isso. Ainda vivo. 

Enquanto é cômodo falar do lugar de alguém que sabe produzir muita coisa muito bem, isso também me meteu em ciladas gigantescas ao longo da vida. 

Eu era ótima em matemática. A única aluna a conseguir um 10 fácil na prova daquele professor que todo mundo tinha medo. Por isso, quando chegou a hora do vestibular, quis prestar qualquer coisa que fosse difícil, só pra provar, mais uma vez, que eu era boa. 

Prestei para Engenharia Mecânica em uma universidade estadual, concorridíssima. Passei. Entrei. Fui aprovada com médias altíssimas nas primeiras matérias de cálculo, física, programação, álgebra, química, matérias que mais da metade da turma ficava pra trás. 

No primeiro semestre, reprovei  em uma matéria só: desenho. Mas isso é papo pra outra hora. Ainda não superei essa parte. Voltando. 

Durante 4 anos, me mantive naquele lugar, estudante de engenharia. Usava o blusão do curso orgulhosa na rua (dava cara de inteligente). Me matava de estudar para coisas que eu odiava e em que, algum momento (tirei 0.5 em uma prova), percebi que eu era muito, muito ruim. 

Foi quando comecei a criar vídeos nas aulas de fundição ao invés de fundir peças que percebi estar no lugar errado. Então fiz mais vídeos. Entrei em uma plataforma que, na época, chamava musical.ly e fiz muitos e muitos vídeos pelos corredores da faculdade (de engenharia) sobre qualquer coisa menos engenharia. 

Comecei a pintar  personagens da Disney. E eu pintava muito, muito bem. Melhorava a cada novo desenho. Conquistei mais de 700 mil seguidores no aplicativo. Conheci a equipe brasileira. Liguei para o fundador (chinês). Pedi um emprego. Consegui. Eu achava que podia fazer qualquer coisa, honestamente. 

Passei anos criando conteúdos de desenho e pintura, até descobrir anos depois que eu odiava pintar. Sempre odiei. Encontrei um diário que minha mãe mantia desde que eu nasci e tinha um desenho meu na página inteira, um Tigrão todo torto e uma frase de criança recém-alfabetizada: EU ODEIO DESENHAR. E isso estava escrito em um desenho. Não colorido. Você imagine só o tanto que eu odiava pintar.

O que eu  amava mesmo era o resultado – ver meu desenho bem feito virar vídeo final, postar e ser reconhecida. Vejam que o sentimento lá de pequena jamais me deixou por completo. Aí eu perdi os miolos. 

Apaguei tudinho. Removi todos meus seguidores do Instagram, tranquei meu TikTok. Ah é, mencionei que o musical.ly virou TikTok? 

Aí vai vida, vem vida, mudei de faculdade, fiz anos de terapia e fiz sabe o quê? Me matriculei em uma aula de dança de rua, porque era minha última lembrança de algo que eu tinha feito por amor, aos 10 anos de idade. 

E sabe o que descobri na primeira aula?

Eu era uma dançarina horrível!!!!

Muito ruim mesmo. 

Mas me senti muito, muito viva, como não me sentia desde criança. E, por isso, meses depois de muita prática, eu não era mais horrível, estava quase me camuflando no grupo de adolescentes que já faziam aquilo há anos. 

Foi uma história longa, mas a moral é curta: faça o que você ama, não o que te amam porque você faz bem. 

Eu fiquei um pouco chocada com essa frase, não estava esperando. Pausa. 

… 

O fato é: aptidão é diferente de paixão. E paixão move as coisas de uma forma que aptidão JAMAIS vai conseguir. Porque te acende em lugares extraordinários. 

Então, se você gosta de escrever, escreva. E, se for o caso,  escreva mal, de propósito. Você não precisa ganhar dinheiro com isso agora. Escreva a pior coisa que você já ouviu na vida, escreva um bilhete e deixe cair café em cima, escreva sobre um dia que não aconteceu absolutamente nada, escreva uma carta para seus medos e não perca  uma palavra sequer que sair de você. 

Porque elas têm muita força. Tanta força, que você nem vai perceber – mas, em um dia qualquer, vai ler alguma coisa que escreveu e pensar: isso aqui está bom de verdade. Bom de verdade, porque faz você se sentir muito bem. 

Então pratique. Faça o que precisar fazer pra não se deixar fugir do que chama seu nome. Do que chama o nome de quem você era quando criança. A escrita me chamou também, então me matriculei aqui mesmo, no grupo de Escrita Matinal. E nos quase sete meses que estou por aqui, já escrevi muita coisa que eu não gosto. Mas, entre essas coisas, também escrevi outras que têm os tons mais bonitos que já vi em mim. Coisa boa de verdade. Boa de verdade, porque me sinto muito bem.


E aparece. 

Com amor, 

Re