Três exercícios de escrita criativa para trabalhar a memória

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Imagem do filme: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001

Certa noite, estava eu sentada na sala assistindo ao especial de 60 anos da Xuxa na TV. Vai música, vem música, de repente no palco: Xuxa lelê. Foi só tocar os primeiros tambores pra eu perder completamente o controle do meu corpo de quase trinta por alguns segundos e gritar esganiçada no meio da sala: PARQUE AQUÁTICO!

Fiquei ali boba parada sorrindo, sem entender a relação. Olhei para a minha mãe, que sentava ao lado, e perguntei cheia de postura e voz regrada: tinha um clipe dessa música num parque aquático, não tinha? 

Sei lá, não lembro, ela me disse. Me meti a pesquisar no YouTube e achei. Êxtase, pulinhos e sorrisos intensos. Assisti àquele clipe com um outro corpo, um que antes dormia e acabava de renascer com Xuxa lelê no parque aquático em qualidade questionável.

Isso já aconteceu com você? De entrar em contato com alguma coisa que fez parte da sua infância e, de repente, abrir uma gaveta esquecida de sensações, sentimentos e memórias?

Gavetas tantas que permaneceriam fechadas se não fosse alguém bater na porta delas, uma por uma. Se não fosse uma faísca, um som, uma palavra, um cheiro, um especial de 60 anos da Xuxa, se não fosse eu, se não fosse você, ou uma inspiração que chega cedinho pra te pegar pela mão enquanto ainda dorme, te fazer lembrar, sentir, sonhar. 

Aqui vão três exercícios de escrita apresentados durante os encontros do Escrita Matinal que fazem algum resgate dos dias de infância, pra guardar com carinho nas gavetas mais altas: 

1. CAIXA DE TESOUROS

Quem assistiu ao filme Amélie Poulain deve se lembrar da cena em que a protagonista encontra atrás de um falso rodapé uma lata cheia de pequenos tesouros de alguém

O exercício é o seguinte: imagine que você guardou em uma caixa os seus objetos preferidos da infância. Você a reencontrou apenas hoje, no fundo do armário. O que tem dentro da caixa? Descreva item a item. Fisicamente: a cor, o tamanho, a textura. Subjetivamente: a história, o sentimento, a memória.

2. DE QUEM SOU FEITO

Jorge Luis Borges escreveu: “Não tenho certeza de que eu exista. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que conheci, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei, todos os meus antepassados”.

E você, de quem é feito? 

Empreste esse olhar especialmente para os seus anos de infância e adolescência. Quem foram as pessoas que mais te marcaram? Sua família, seus professores, as pessoas que passavam na tela dos seus programas preferidos… 

Quais partes dessas pessoas ou personagens te constituem hoje? De que forma? No seu jeito de se vestir, de pensar, de falar, de amar? 

Passeie pelos seus outros. Conte no texto o que encontrou. 

 

3. FOTOGRAFIA PREFERIDA

A cada etapa da vida temos um registro diferente de quem somos. Escolha uma imagem da infância que te marca, te chama atenção. Pode ser uma foto impressa, digital ou guardada apenas na memória. 

Descreva o que você vê, sem olhar para a foto real. Tente se colocar no tempo daquela imagem. Como você se sente? Quais eram os cheiros, as pessoas, as imagens que estavam naquele plano e não saíram na impressão? Escreva sobre isso. 

Espero que seja uma linda viagem e 

que a criança que vive dentro de você 

grite PARQUE AQUÁTICO!!! 

Esganiçada e tudo.  

Com amor, 

Re e equipe do 

Escrita Matinal