Foto: Maria Dinat
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Quando colocamos nossos pensamentos no papel, estamos criando uma conexão entre o que está em nossa mente e a linguagem escrita. Ao escrever, você se envolve em um processo ativo de organização e síntese de informações. Escrever algo várias vezes, como fazer anotações ou revisar um tópico, reforça a memória. A repetição é uma técnica eficaz para lembrar informações importantes. Ter a escrita criativa como um hábito consolidado, é manter as recordações frescas, acessíveis.
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Aniversário da minha irmã
O dia passou rapidamente, com o emaranhado de coisas para organizar o aniversário da minha irmã caçula. Eu me sentia eufórica, feliz, radiante, algo pulsava dentro de mim. Tanto pela comemoração, como por minha mãe ter deixado eu convidar minha nova amiga, a nova vizinha, com a qual eu havia brincado o dia todo.
Eu sou daquelas pessoas que, diante da intensidade de sentimentos, perco o filtro entre o que penso e o que falo. Em muitos momentos, prefiro ficar em silêncio, para não falar besteira, pois a velocidade do pensamento não me permite emparelhar as palavras de maneira compreensível. Não queria ser minha analista, para fazer a escuta da minha associação livre.
Mas naquela época, eu não sabia que não podia, diante da minha nova amiguinha perguntar:
-Onde está o presente, que você trouxe para minha irmã?
-Minha mãe vai trazer, quando vier me buscar – respondeu naturalmente como uma criança de 5 anos faria. Era dois anos mais nova que eu.
-Ai – senti meu braço arder. Tinha levado um beliscão, os olhos surpresos de minha mãe, me dizendo baixinho que não podia dizer uma coisa dessas. Que era falta de educação.
Todas as outras pessoas, haviam trazido embrulhos coloridos, fitas, enfeites, em uma explosão de cores que me animavam pensando na alegria daquela coisinha pequena, que era minha irmã de 2 aninhos.
Não sabia que não podia perguntar, diante da falta do presente nas mãos da minha amiga, minha nova amiga. Me senti tão tola, tão sem graça que não consegui me entregar inteiramente aquela presença, que havia esperado o dia todo.
Guardei esse dia na memória, como quem guarda uma relíquia. Não posso perguntar do presente, mas meus olhos me traem, quando alguém chega em um aniversário hoje em dia. Eles passeam até as mãos. Tento disfarçar, mas já foi, já pensei, já me perguntei onde está o presente. E algo tão primitivo, ainda é tão vivo, quanto o arder do braço e o olhar de repreensão de minha mãe.